domingo, fevereiro 12, 2012

Noturno


Com a Lua pálida como vigia, sem saber direito que horas são,
Em qualquer um de vários cômodos quietos
Com a solidão e seu abraço frio
Merecidamente acordado,
Protegido por um acordo não-dito com os que dormem
É assim que se abandonam as manhãs
Tendo como arma o cansaço, o costume
Vencendo a rotina quase sem intenção
Nenhum som além do som de pensamentos recém-acordados
Bem-ouvidos, como que despertos, enfim
Cada suspiro percebido como se fosse um evento
luzes poucas, discretas, para amantes noturnos
Apenas a noite como companheira,
Ela, que pouco a pouco nos convida
Junto a sua legião roxa-azul-preta
A madrugada chega, com seu não-brilho eterno
Se espalhando, lenta, até formar um preto único
Madrugada em estado bruto,
Sem centro nem cantos,
Só um giro incessante pela profundeza negra
ela e sua brisa suave
percorrendo muda ruas vazias, anônimas
carros e pessoas passando como que fora de seu hábitat
chegam as primeiras lufadas de sonho
Bem-vindas, suaves, esperam sua hora
E povoam a mente com uma confusão calma
troca-se um lençol estrelado por um mais simples,
fino, branco, já conhecido

até que então a civilização chama de volta
com seus gritos matinais e relógios diurnos
tentando preservar, talvez, um senso de proporção,
de funcionamento, de sanidade.