domingo, abril 08, 2012

Há Saudade

Tive saudade – ela mais minha do que nunca –,
(saudade como medida do que se gosta e ainda se pode – e se quer – ter)
num certo quarto escuro - ainda fresco na memória -, corpo preso a um solo infértil.
Invisível, me desfazendo em lágrimas por sobre o piso
Saudade de doer, gritar, até que se perceba que gritar é inútil
Saudade crônica, quieta, que vem de novo me aplacar
como que esperando o mínimo sinal de fraqueza.
Saudade pela força infinita da mudança.
Saudade e medo. Medo do futuro e seu peso surreal,
medo da pequenez de ser apenas um homem sem controle do próprio destino,
medo de voltar pr'aquele quarto,
encolhido num canto da parede, pés no chão frio,
olhos doídos, querendo se fechar e deixar que se ocupem da visão a memória, o sonho.
Saudade como ferida que vai se cicatrizando,
lenta o suficiente para que se percebam suas marcas.

Dessa saudade eu me cansei.



Ainda a sinto, em doses
Numa música que há muito não se escuta
Na estante, numa foto que já me cansou, desbotada
Na imagem que não está em foto (a foto que não existe)
Saudade nas cartas que se guarda, nas que não se recebe, nas cartas queimadas
No fundo da gaveta, numa já encardida, borrada pela lágrima
Numa certa rua colorida pelo Sol numa certa hora
No cheiro de perfume que ficou – na roupa, na memória.

Me cansei... me canso.