sábado, julho 30, 2011

Pedaços de Mim

          Home is where your heart is”, eu costumo ouvir. Mas penso que nesse momento não consigo dizer precisamente onde estão nenhum dos dois.
         Meu coração (assumindo o significado geralmente dado ao coração por razões práticas), não mais vermelho e quase cinza, perdido, machucado, em uma estrada qualquer, talvez, com manchas de sangue ao redor como uma parede em um filme de Quentin Tarantino. Cansado de suas próprias demandas infantis, escondido de outros corações, cada um com suas decepções próprias. Batendo forte o suficiente para sobreviver, apenas.
         Minha casa, com suas bases gastas, os cantos das paredes cheios de poeira e paredes carregadas de palavras mofadas e silêncios arcaicos, ou qualquer sentimento que seja. Um lar agora pequeno demais para acompanhar o crescimento dos meus braços e pernas, olhos e desejos. Lugar onde cores e coisas “familiares” podem não ser alegres como boas lembranças da infância, e por um instante parecer opacas, rasas, estranhas. Casa sem teto.
         Eu, trincado. Eu, em pedaços. Feito de cacos juntados às pressas e colados juntos por mãos desatenciosas, sem ordem ou compaixão. Construção malfeita que o espelho tenta inutilmente esconder. Ainda sobram algumas cicatrizes aqui e ali – que o corpo tenta fazer desaparecer –, testemunhas das feridas de outrora.

quarta-feira, julho 13, 2011

Lovin' You

Noite fria. Acabara de chegar em casa. Tinha sido uma noite maravilhosa e o que eu precisava, para dar a ela um final perfeito, era um pouco do bom e velho Zeppelin. Tinha conseguido uma versão que até então não tinha ouvido de ‘Since I’ve Been Loving You’ (título longo pra enormes sentimentos), e aquele era um momento perfeito para parar de me lamentar por não ter feito isso até então e finalmente ouvir.
                Fechei os olhos, não precisaria deles. É mais fácil sonhar de olhos fechados. Dispensei sentidos de que não precisaria, e deixei a audição tomar conta e fazer sua magicka. Que os oitos minutos parecessem durar uma vida inteira.
                No início só existe escuridão. Preto. Silêncio. E então começam as palavras mudas do som musical. Aumentei o som o máximo que pude e deixei ele me envolver. Ele se derramou dentro de mim e inundou todo, até só restar ele, completo em si mesmo. Assim o preto se tornou azul. Blues borbulhantes liquefeitos se bifurcando, se misturando à batida. Amor em azul. Não há necessidade de cantar. Naquele momento eu só sentia a música, só era a música, e queria guardá-la dentro de mim. A cada verso, a cada batida, a cada acorde, ao solo de arrepiar, trovões deliciosos dentro de mim.
Êxtase finito.
Abri os olhos lentamente, tentando não me desprender do sentimento rápido demais. Voltei. Vi as mesmas frias paredes, a mesma janela triste, a mesma inútil paisagem. Paisagem em preto e branco. Não mais azul por um tempo. Não que eu vá perder a cabeça por causa disso.



Baby, since I’ve been loving you, I’m about to lose my worried mind
Since I’ve Been Loving You
I’ve Been Loving You
Loving You


Love In Vain?