quarta-feira, janeiro 19, 2011

Morangos


Noite tardia, as luzes ao redor já tinham se apagado e a vizinhança dormia silenciosa sem saber do que se passava lá fora – o que quer que fosse. O ar se enchia de uma paz morna que de tão rotineira e carregada há tempos se acumulava nos cantos das paredes do apartamento.

Escolhi um filme para relaxar, e me acomodei na poltrona confortável e ainda sem mofo. Mas faltava alguma coisa. Fui na geladeira e vi uma caixinha de morangos frescos comprada ainda no dia anterior. Já com os morangos pela metade. "Não se respeita mais um dia de descanso nessa casa". Peguei o resto e sentei para ver o filme.

Já falei que o morango é minha fruta favorita? Não? Enfim... Fingi que estava apreciando o filme com mais atenção - As Horas, realmente é bom - para poder comer o mais lentamente possível. Cada pequeno morango se estendendo por dois, cinco, dez minutos, seu gosto doce e rubro se estendendo longamente. Mesmo tendo apenas a televisão como iluminação, percebi que meus dedos já se cobriam de um líquido vermelho. Um pensamento me veio à cabeça, e cheirei os dedos suavemente. Campos, campos inteiros de morangos vermelho-sangue em essência. Me indaguei como não tinha tido aquela ideia brilhante antes. De novo... o aroma me entorpecia doce e infantilmente. Terminei o filme e fui dormir. Lavei minhas mãos só o suficiente.

Acordei de manhã cedo e estiquei os dedos para desligar o infeliz despertador. Os dedos... será? Ainda um pouco vermelhos nas pontas... existe um chance. Passei o nariz levemente. Pouco, quase nada. Foi com morangos que percebi que as coisas boas sempre acabam um dia.

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